Não sei quem inventou essa moda, mas sei que é coisa da civilização. Eu compreendo que seja necessário que evitemos falar tudo o que pensamos para conseguirmos uma boa convivência com as pessoas, e até concordo com isso, mas… Putz! Engolir essas palavras não ditas me adoecem!
Olhem só que crueldade: se falo o que não deveria, causo um transtorno nos ambientes e relacionamentos em que vivo; se não falo, adoeço… adoeço até quase morrer!… e depois do quase, morrer mesmo!
Gostaria de dizer pelo menos uma única vez na minha vida tudo o que me está engasgado, me tirando o fôlego, virando refluxo de um ácido que me corrói as cordas vocais…
Então falarei!!!!
Ah, sim, vou falar mesmo, e quem não gostar que não me ouça (ou não me leia)!!!!
1) A Tetéia e a morte: a dor desta perda que tem se dado com a crueldade das areias de uma ampulheta que não param de correr à revelia da minha vontade, às vezes penso que poderia se aliviar convivendo um pouco com a inocência e doçura de minha linda Tetéia. Nada melhor do que uma nova vida para nos consolar de uma velha e amada pessoa que está partindo. Mas isso não funciona assim na prática!!!! E não funciona porque, embora Tetéia tenha em suas veias o nosso sangue azul asa de borboleta, tem também a crueldade insana de sua possuidora enciumada. Sim, possuidora, proprietária, feitora e carcereira, que sempre tratamos como filha ou irmã, com todo o amor e respeito que nossos corações pudessem lhe dar. Porém, sempre fomos enjeitados, excluídos, maltratados, mal-falados, agredidos verbal ou moralmente, ou até coisa pior!!!! Tetéia? Só para os dela, os dela com vida longa, e jamais para este vô de partida, de coração partido por não ter direito de “vô-ar”. Nosso crime? Está no sangue!!!! Sim, como eu disse, nosso sangue é azul-borboleta, escarlate nas lágrimas, mas não é de ouro! Não tem aqui nenhum tesouro ou cifrão, só temos a oferecer nosso amor e nosso coração.
E vocês acham que as perdas param por aí???? Param nada! Além de Tetéia, que tem só meio sangue do nosso, aquele que a gerou em “parteria”, que tem todo nosso sangue e leva nas veias também nossas histórias, tem de se manter distante, para poder garantir sua fantasia-felicidade, para ficar perto dos “bebês-refëns” que tanto ama, os quais dele seriam afastados caso reivindicasse para si a simples liberdade de amar seus velhos que estão partindo, e suas irmãs já partidas pelas dores da vida!
Assim, não temos o que ganhamos e perdemos o que uma dia acreditamos ter. E lá se vai adoecido de tristeza, passos lentos para uma morte acelerada, um vô-pai que sente arrancado de si o único tesouro que acreditou ter eregido nesta vida: uma família feliz e unida! É o triste fim de uma ilusão!
Na hora de pedir dinheiro, na hora de pedir ajuda, na hora de exigir um direito, todos estão ali, fazendo pinta de família (ou de credores). Mas na hora de consolar, aliviar a dor de quem morre, na hora de dizer as palavras de amor ou desabafos que jamais poderão ser proferidas após o funeral, ninguém se faz presente. Não haverá um último abraço, nem a última ceia. É uma morte sem dignidade, não sairá na mídia, não perdurará nas lembranças, pois só se lembram facilmente do espólio a ser repartido, e todo o resto é convenientemente esquecido!
Ganhei uma “irmanada”, perdi um irmão, ganhei uma família aliada, e esta se “inimigou”… assim, gratuitamente, só por esporte, ou pela fraqueza de não suportar suas próprias misérias e as projetar nos outros, outros estes (no caso, nós) facilmente odiáveis, pois são de outro tipo de sangue, outro que não ouro, mas que embora seja azul, sangra escarlate! Ganhei uma Tetéia, ganhei uma promessa, e vem aí outra sementinha, outra criancinha, que só amarei em sonhos, e mais, sonhos secretos, porque se souberem desse amor de tia, algo mais irão me tirar! Como se já não bastasse tudo o que a vida já me vem tirando: Irmão, irmanada, Tetéia, sementinha, a casa nova da família unida e meu paizinho, tão frágil depois de ter sido por tanto tempo tão forte.
2) Um lar no paraíso – Anos de sonhos, anos de luta, tostão por tostão, suor por suor. Deu briga, sim deu muita briga, mas até então era uma briga por querer um lar que pudesse juntar tudo aquilo de nós que vimos despedaçar vida afora. Se antes fora ideal, sonho ou utopia, agora virou coisa esquisita! Virou suplência para a falta de auto-estima, recobrimento do sentimento de inferioridade e frustração, virou uma arca-de-noé que deveria abrigar a todos, mas agora, com essa tragédia, já não é mais para todos, mas só para os sobreviventes. Pois é, que deixem de lado os moribundos, lá tem casa até para marimbondos, pois estes estão bem vivos e agressivos, reivindicando seu quinhão, ganhando no grito ou no ferrão.
Já os velhos e doentes, estes não importam, não é mesmo??? Estes não viverão o suficiente para um quarto digno, um lugarzinho para chamar de seu, e, se perdurarem até que o tapume verde seja retirado, coloque-os em qualquer canto, pois logo, logo, serão desovados para uma cova, um mausoléu, com as ossadas e pós de seus antigos. Ah, e de preferência que se vão rápido, para não sujarem essas paredes com suas lembranças velhas, seus sonhos frustrados, suas vidas mal-acabadas!!!!
Paraíso? Lar? Para mim isso mais parece isopor! E casa de isopor (que nem as lajes) eu nunca quis! Meu sonho para esse lar era que nos unisse, nos aproximasse e nos desse uma rapinha de família feliz! Como poderei ser feliz lá? Sem a privacidade e o isolamento que garantem minha saúde mental, sem meu casal de velhos vendo o sol se por no horizonte, sem irmanada (que nunca seria tão generosa de se considerar parte de nossa família), sem sequer um pedaço de irmão (quem nem é dono da própria vontade, pois tem como reféns seus filhotinhos)… Tetéia e criancinha???? Vocês acreditam realmente que as teremos brincando felizes pelos jardins floridos e casinhas de brinquedo que planejamos especialmente para elas???? Acho que elas nem saberão que somos seus parentes! Elas correrão assustadas quando nos verem, pensando que somos estranhos ameaçadores, pois assim foram ensinadas, pois de nós sempre são afastadas!
Sobrou o quê, para esse lar paraíso??? Sobrou o quê de família? Ali não mais serão celebrados natais, aniversários, dias das mães e dos pais… ! Não serão mesmo! Afinal, cada filho quer seu rumo, seu concurso, seu prosseguimento, de preferência aliviando-se da carga daqueles que por toda a vida os carregaram!!!!
Não quero esse “lar”para mim! Eu quero um lar-família e não um lar-discórdia, lar-dor, lar-abandono, lar-rejeição… Não me sobraram sonhos! Não me sobrou esperança! Pudera eu virar caruncho e fazer minha casinha em uma enorme coleção de livros de historinhas. Pudera eu, como caruncho, me alimentar letrinha por letrinha… transformando em pó aquilo que para mim, um dia, foi o sonho de uma família completa, realizada, unida e feliz!
Eu me desenlacei! Cansei! Preciso descansar… para sempre… talvez lá, no tal mausoléu… pouco sobrará de mim… um chumaço de cabelo e uma caveira com o cartão de visitas do meu dentista cravado na minha arcada dentária.
É tanta dor, tanta mágoa… e tenho de me calar!
, Avida nunca é como queremos não é,vivemos a merce de Um Poder Maior cujos designios a maior parte do tempo,não entendemos,as vezes temos que conviver ,nessa jornada,com caminhantes hostis, com caminhantes muito atrazados em espirito,mas temos que caminhar… ajudando aos companheiros, lambendo as feridas, deixando as amarras do apego ,caminhando sempre caminhando ! alguns de nós tem um codigo moral para os acompanhar na caminhada,outros vivem suas vidas mesquinhas voltados para si mesmos e sua pequenez… Mas aqueles que sabem que tudo é transitorio, que não vale a pena se irritar com a vida ,esses continuam a caminhar,corajosos,ajudando,amando apesar de tudo! Deus a proteja Tatiana!
Mais uma vez obrigada pelo carinho, Ieda! Seu carinho é um alento para minha alma dolorida! Às vezes a dor é tanta que acho que não vou agüentar! Minha alma está em frangalhos e meu corpo cheio de feridas… e o mundo continua demandando de mim que eu cumpra minhas obrigações de vivente… sem tréguas, sem misericórdia, sem recompensa alguma, sem prazer… só obrigação! Mas tenho as letras, as palavras, meus textos e o carinho de pessoas como você, pessoas que parecem existir só nos meus sonhos, mas que aqui desta triste realidade ainda escuto a voz (ou leio as letrinhas)! Obrigada!